segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Simulado de Triathlon: sobrevivi!

Quem passa sempre aqui sabe que já faz um tempo que eu procuro alguma competição de Triathlon acessível a um pseudo atleta como é o meu caso. O “acessível” diz respeito tanto aos valores (um eventinho meia-boca não sai por menos de R$ 200,00) e também no que diz respeito às distâncias, afinal, são 3 modalidades envolvidas e sequenciais: nadar, pedalar e correr. A melhor opção seria o formato de Fast Triathlon que participei em 2010 (veja Meu Primeiro Triathlon!), mas o evento foi cancelado pela nossa prefeitura e os cariocas ficaram com a etapa deste ano, então voltamos às buscas de outra oportunidade. Eis que encontrei, por intermédio de um professor da academia, o Simulado de Triathlon Julio Vicuña, que acontece com periodicidade de pelo menos 1 vez por mês nas proximidades da Represa Billings e Estrada Caminho do Mar. Como este aqui do outro lado da tela não sabe ficar quieto e perder estas oportunidades, lá fui eu para mais uma empreitada.

Na verdade, já deveria ter participado em dezembro, inclusive com inscrição paga, mas não me senti bem na véspera e acabei abortando o evento. Desta vez, apesar da chuva torrencial que caiu no sábado e durante a madrugada, acordei com aquela sensação de “eu vou com qualquer tempo”. Peguei a capa de chuva e abri a janela, dando de cara com um sol que já rasgava as nuvens. Inclui o protetor solar na mochila, juntei a roupa de neoprene, coloquei a bike no carro e fui.

Chegando ao Clube dos Borracheiros, local onde ocorre o evento, não consegui estacionar dentro do estabelecimento, porém o acostamento da rodovia já estava sendo improvisado como estacionamento secundário. Fui muito bem atendido pelo staff, que conferiu a inscrição, entregou uma pulseira identificadora e deu as instruções para os marinheiros de primeira viagem como eu. Fui para a área de transição e já não havia mais aonde estacionar a bike. Deixei-a deitada em um canto na grama, assim não haveria problemas de estar no caminho, e fui para a água, primeiro (e mais temido) trecho do Triathlon.

Natação: Batalha Naval

Vestido com a minha sauna-móvel, como chamo as roupas de borracha e neoprene, fui para a área de largada, onde muitos já faziam os trajetos de contorno de bóia. Não existe necessariamente uma largada, pois é um treino, então você pode ir no seu ritmo, sem pressa. Uma pessoa da organização em um caiaque gentilmente conversou comigo e explicou o percurso de 750 m contornando 3 bóias no sentido anti-horário. Perguntou se eu já nadava e informou que a água da represa era um pouco mais densa. Como medida de apoio, chamou outro caiaque que me acompanhou pelo percurso todo, sem contar a presença de bombeiros e pessoal de emergência, que estavam nas imediações. Então diga: quantos eventos você acha que comportam uma estrutura dessas?

Ao começar a nadar, constatei logo de cara que a água é realmente muito densa comparada à piscina e até ao mar, devido à vegetação nas imediações, que além de tudo deixa um tom verde escuro. Visibilidade em centímetros, mas o pior foi constatar que eu não sabia nadar com a roupa de neoprene. Foi um parto, parecia que eu nunca havia nadado antes! Tentei de tudo, do crawl mais apropriado para a competição, peito e até costas para descansar um pouco (só não nadei “cachorrinho”, caso você pergunte). O colega do caiaque até ofereceu um daqueles “macarrão” de piscina para que eu descansasse, mas eu recusei, ia ser o máximo, eu no meio da represa agarrado ao “macarrão”. Para completar, a touca de silicone rasgou e o óculos quase foi ejetado, mas eu peguei à tempo. Ao final dos desgastantes 750 metros, o cidadão do caiaque até ficou admirado pela minha persistência por não pegar o “macarrão”, eu agradeci o auxílio dele e fui para a T1 (transição 1, natação/ciclismo).

Pedal: Tudo que desce, sobe...

O Monstro do Pântano sai da água, tira (ou desgruda, se preferir) a roupa, põe capacete, óculos de sol, luva, tênis (sem sapatilhas por enquanto) e leva a bike para o final da transição. São 16 Km à frente, sendo 6 no sentido do litoral, voltando no retorno sinalizado para o evento e subindo 8 na direção da Via Anchieta, voltando mais 2 para o local do evento. Mas como você deve imaginar, descer é fácil, subir é outra estória. A velocidade variava dos quase 40 Km/h nos trechos de descida e plano para míseros 12 Km/h nas subidas, mas sem parar nem por um segundo. Bikes de triathlon passavam zunindo pela minha querida Caloi 10 toda “tunada” com trocadores e câmbios Shimano, sem contar outros upgrades (e ainda falta a maldita pedivela...) .

Mas o sol entrou forte no céu, e eu me sentia igual ao Motoqueiro Fantasma, pegando fogo no meio da estrada, ou melhor, no acostamento (na minha cabeça tocava "Ghost Riders in the sky"). Quem transita na região já deve ter se acostumado com aquele povo doido pedalando e correndo aos domingos às margens da rodovia , então não vi nenhum incidente ou buzinada, apesar da estrada estar relativamente movimentada. Acabou o trecho, que pena, eu adoro pedalar, ir para a T2 (transição ciclismo/corrida) e correr!

Corrida: com os dois pés no chão

E para explicar isto para o corpo? Eu vivo treinando estre trecho na academia, pelo menos uns 20 minutos na ergométrica, saio e vou para mais uns 20 de esteira, mas a vida real é bem diferente. Sair de uma bicicleta em movimento e correr no asfalto é uma mecânica totalmente doida para o seu corpo. Meu primeiro quilômetro foi com quase 8 minutos, ridículo porém real. E o sol fritando! No posto de hidratação do Km 2,5, água, Gatorade e informação incorreta: perguntei para a mocinha se ali era o retorno e um outro sujeito da organização falou que era mais à frente. Resumindo, eu deveria fazer “só” 5 Km, acabei fazendo 7,5, isto porque vi a marcação de 3.750 metros no chão. Tudo bem, é só corrida mesmo...

Voltei e terminei o que havia começado. Este é o espírito do Triathlon, terminar aquilo que você começou: arranjou briga com a água, o pedal e o asfalto, vai ter que ir até o fim!

Sobre o evento

Gostei muito da organização, pessoal muito atencioso e organizado. Ao voltar da água, a bike que estava no chão foi gentilmente acomodada sobre um tapete de borracha, sinal de que havia preocupação com o equipamento. Instruções bem claras quanto à segurança, termo de responsabilidade preenchido pelo atleta, revistas de brinde, patrocínio de gente de peso como a Saucony, hidratação à vontade na transição, frutas, piscina para relaxamento. Tudo isto por R$ 50,00 mais a entrada no clube, R$ 5,00 por pessoa e R$ 10,00 para o carro (se tivesse utilizado o estacionamento). Sugeriria apenas um pouco mais de controle de acesso à transição.

E os tempos finais (pelo meu cronômetro, com alguns ajustes):

Natação (750 m): 00:35:29
T1: 00:09:49
Ciclismo (16 Km): 00:41:02
T2: 00:04:56
Corrida (7,5 Km): 00:54:11
Total: 2:25:27

Mas o mais importante...

Foi um treino e uma coleta de informações inimaginável para mim. Vi como eu me comporto em água doce e turva, com roupa de neoprene, pedalando no sol, correndo após pedalar. Não consegui sentir tudo isto no Fast Triathlon, afinal, foram distâncias muito menores, e o clima de competição não dá espaço para estas reflexões. Se eu quiser enfrentar mesmo um triathlon, de qualquer distância, vou ter que treinar, treinar e treinar (um para cada modalidade) e muito.

Isto é, assim que o corpo parar de doer...

(agradecimentos à Márcia, que testou sua câmera nova e tirou as fotos deste ser desengonçado fazendo os 3 percursos)



domingo, 12 de fevereiro de 2012

Filme “Der Räuber”: Assaltante e Maratonista. Pode isso?

Você já deve ter ouvido o termo “carro de fuga”, mas “tênis de fuga” talvez seja um pouco diferente do que vemos nas reportagens policiais sobre assalto a bancos. A estória do filme austríaco “Der Räuber” ou “The Robber” ou em português “O Assaltante” de 2010 poderia ser considerado como sendo um roteiro totalmente original, mas por incrível que pareça, é baseada em fatos reais ocorridos naquele país nos anos 80.

Johann Rettenberger (interpretado pelo ator Andreas Lust) inicia o filme correndo ao redor de um minúsculo pátio de prisão e terminando o treino em esteira em sua cela (aqui mal cabem os prisioneiros em uma cela, imagina se tivesse até equipamento de academia!). Após ter cumprido sua pena por assaltos, Rettenberger volta às ruas, tanto para correr quanto para roubar bancos. Ele realiza tão bem suas façanhas que chega a assaltar dois bancos em um só dia, correndo de uma agência para outra, é claro, e também vence a Maratona de Viena, uma prova com 30 mil participantes.

Retternberger ficou conhecido na época como ”Pumpgun Ronnie”, por utilizar uma máscara de Ronald Reagan para assaltar os bancos. É claro que um herói nacional do esporte não poderia simplesmente mostrar a cara em uma agência e dizer “isto é um assalto!” e continuar vivendo sua vida normalmente. Para completar ele rouba carros para executar alguns trechos de assaltas, mas na maior parte do tempo está correndo de um lado para outro.

O filme chegou a concorrer ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, mas tenho que fazer uma ressalva importante aqui: não espere ação ininterrupta como nos filmes de Hollywood, apesar das cenas de perseguição serem muito bem feitas. É, antes de qualquer coisa, um drama, o retrato de um cara que não está satisfeito com o que faz e sempre precisa de mais. A prova disto é a pilha de dinheiro embaixo da própria cama, fruto dos roubos, e que não parece ser utilizada para nada além de comprar alguns pares de tênis. Particularmente, eu sugiro uma abordagem do tipo a do Coringa no último filme do Batman, ou seja, o roteirista não se preocupa em perder tempo explicando como e porque o criminoso surgiu, e sim como ele executa majestosamente suas façanhas.

Baseado no livro “On The Run” de Martin Prinz (sem tradução para o português ainda, sorry...), é um filme interessante porém pouco fácil de encontrar, uma vez que não possui cópias distribuídas no Brasil. Para se ter uma ideia, tive que assistir com a legenda em inglês por falta de opção melhor. Mas por ser recente, ainda há esperança de alguma distribuidora colocá-lo em catálogo.

Enquanto isso, você curte o trailer:



Alguns links interressantes:

Livro “On the Run” de Martin Prinz (em inglês) no Amazon

Ficha completa no IMDB:

Der Räuber (2010) - The Robber

P.S.: aqui no Brasil não temos assaltantes maratonistas e espero que continuemos assim. Quem rouba aqui são alguns organizadores de certas provas, que cobram uma fortuna e não entregam eventos de qualidade...